atelier d´alves
O que faz com que vocês não sejam “apenas mais um atelier de design”?
Ponderam utilizar a técnica tipográfica em projetos futuros?
A impressão tipográfica tem um problema: não é muito fácil fazê-la nem há muita gente a fazê-la. Quando fomos para Tomar desenvolver estudos tipográficos fomos para lá precisamente porque cá no Porto não encontramos essas possibilidades. Se eu tivesse a oportunidade de andar meia dúzia de metros e tivesse aqui uma tipografia com tipos móveis eu era o primeiro cliente.
Como isto está cada vez mais distante do dia-a-dia, cada vez há menos possibilidades, ou porque é extremamente caro, ou porque as pessoas deixaram de usar e já poucas pessoas sabem como usar, ou porque se deitaram fora e já existem poucos tipos, pouca variedade… De repente começa-se a ficar limitado, porque muitas vezes não há alfabetos completos, ou os tipos também já estão um bocado degradados e por isso já não têm uma impressão muito boa, o que para mim não é mau porque conseguimos sempre dar a volta a isso e utilizar impressões menos boas. Mesmo em Tomar acontecia isto, têm muitos tipos, mas não têm assim tantos quanto isso, há alguns sítios no mundo que são autênticos museus de tipografia.
A nível de produção é uma coisa que realmente acho que está a perder a validade, infelizmente, mas tinha toda a validade do mundo continuar a utilizarem-se este tipo de impressões, contudo é cada vez mais difícil. Assim, a única coisa que nós podemos fazer é registar as coisas que encontramos de alguma forma (imprimir, digitalizar, ter em arquivo) e depois usar caso haja oportunidade para os usar. Agora, para resolver um trabalho diretamente em tipografia já é muito mais complicado, porque mesmo a nossa forma e a nossa aproximação aos projetos é um bocadinho diferente. Nunca se envolve só a tipografia, mas tipografia e imagem, e por isso podíamos fazer uma primeira parte em tipografia e uma segunda em imagem, eventualmente. Como isto implica muitas experiências no nosso processo, por exemplo, na produção de cartazes, dificilmente nós conseguíamos fazer tantas experiências com tipografia, porque compor tudo, “descompor” e voltar a compor demora muito tempo. Quando podemos fazer cinquenta experiências numa semana, em tipografia nós demorávamos um mês, por exemplo. Por isso, a nível de processo é mais moroso e por isso é que também encontramos mais alternativas que é: imprimir, digitalizar e a partir daqui podemos utilizar aquilo de uma forma mais rápida, compondo no computador, no fim de se saber a composição final, há sempre a hipótese de voltar a imprimir em tipografia.
Pegando nas vastas experiências de contacto com os clientes, já algum vos pediu um trabalho com ideias concretas e com uma visão já idealizada? Ou na maior parte dos casos são vocês que começam tudo?
Em vários trabalhos misturam a tipografia com artes plásticas. Sentem que é necessária essa
dualidade para chegar ao resultado pretendido? Porquê?
Não é uma solução pensada no início, eu acho que dificilmente começo um projeto a pensar que tenho de arranjar forma de associar tipografia manual a uma ilustração feita ou a uma fotografia específica. Não há uma coisa que seja planeada, depende muito do projeto, do que nos pede. Se o conteúdo do projeto nos remete para alguma coisa que implique manualidade, manchas de cor ou uma certa abstração, vamos por aí. Se não implicar nós também não vamos forçar essa relação. Claro que isso também é importante, porque as pessoas que nos pedem trabalho já estão à espera que façamos um tipo de trabalho, ou porque acham que o trabalho que nos vão propor encaixa nisso, ou porque têm uma certa vontade em trabalhar connosco e também querem ver de que forma é que nós podemos dar a volta ao projeto.
Pode haver situações em que a única forma de resolver o projeto é tendo uma fotografia e colocar lá a informação corretamente, ficando resolvido o cartaz. Estar a forçar a relação de fazer sempre uma coisa manual é um bocado saturante para nós porque temos que estar sempre a batalhar naquilo, e é muito mais interessante como processo não sabermos o que vamos fazer a seguir. Pode ser que seja novamente um projeto manual, em que nós realmente temos muita experimentação, ou então pode ser um projeto completamente oposto em que nós usamos uma fotografia e tipografia digital.
Reconheço que as pessoas nos reconhecem por isso, também é a nossa forma de mostrar os trabalhos, de nos valorizarmos, e não quer dizer que sejam melhores ou piores no sentido de design, mas nós dedicamos-lhe muito mais tempo, porque têm um grau de experimentação muito maior. No final, supostamente, também temos muito mais para mostrar, ou seja, muitas vezes quando nós mostramos os nossos projetos não mostramos só o produto final, mostramos o que é o processo, quais são os pormenores de uma certa tipografia que muitas vezes ao ver só a imagem final não dá para notar, mas quando é mostrado o pormenor, é realçado o detalhe.
No processo mais digital já não há tanta diversidade, apesar de haver também muitas fases e momentos diferentes durante o processo de design, mas não quer dizer que se calhar não é tão interessante mostrar diferentes variantes ou posições da fotografia que se está a usar, analogicamente isto já é um bocadinho mais interessante.
Quando nós colocamos no site, ou noutras plataformas on-line, muitas das vezes já estamos a encaminhar para aquilo porque nos “apetece”, não é porque nós só fazemos aquilo ou porque todas as nossas soluções são manuais, não, até porque era impossível porque são processos muito longos e para termos esse tipo de processos para todos os projetos precisávamos de dois ou três anos e muitas vezes estamos a fazê-los todos num ano, por exemplo. Por isso, muitas das vezes, tem a ver com a questão de pôr na balança, equilibrar as coisas e saber até que ponto é que nós podemos ir, até por uma questão de tempo, nós não podemos ter sempre essas aproximações porque há projetos que são muito rápidos, para daqui a duas semanas, por exemplo. Aí, nós que temos coisas em processo, não podemos deixar tudo para nos dedicarmos duas semanas inteiras a um cartaz que muitas das vezes nem duas semanas só a fazer aquilo chegavam, quanto mais a conciliar os outros projetos. As nossas aproximações têm muito a ver com os nossos ritmos e com a urgência do cliente, do projeto e da produção, porque se é uma coisa que precisa de ser reproduzida de uma certa forma, nós não podemos colocar lá coisas que vão encarecer, aumentar o tempo de produção ou dificultar, por parte do cliente, a divulgação e a fixação. Por isso tudo isso são processos importantes para nos ajudar a decidir o que é que nós vamos fazer graficamente com os projetos.
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