Biblioteca José Bayolo Pacheco de Amorim
A colecção de livros antigos, que integra a Biblioteca José Bayolo Pacheco de Amorim, tem vindo a ser, objecto do meu estudo, desde 2002. Este artigo visa, em primeiro lugar, entender o livro na sua materialidade e na complexidade dos processos de fabrico, e em segundo lugar introduzir a ideia de que, o estudo de bibliotecas particulares se revela muito importante para entender a evolução do gosto e da cultura, dos hábitos de leitura, da evolução da tipografia e do estudo da edição em Portugal, bases onde deve assentar qualquer reflexão sobre a natureza cultural e artística deste objecto privilegiado da nossa cultura, o Libro.
A nossa Biblioteca José Bayolo Pacheco de Amorim constitui um acervo assinalável de mais de vinte mil volumes, resultado de uma escolha feita por dois Professores Catedráticos da Universidade de Coimbra, Doutor Diogo Pacheco de Amorim (fig.1), e Doutor José Bayolo Pacheco de Amorim (fig.2), envolvendo obras raras de alto valor, sendo o seu maior valor o de envolver todas as áreas do saber.
O primeiro resultado deste trabalho foi a organização do catálogo do núcleo do livro antigo referente à tipografia portuguesa. Nada havia de ser negligenciado, desde o papel, a tipografia, a empaginação, os ornatos, o modo de construir a ilustração e de editar, a maneira como foi encadernado, isto é, possuído e conservado.
Esta tarefa foi morosa pois teve de ser feita de raiz o que, por sua vez, a tornou mais aliciante. Contudo, não foi fácil penetrar neste mundo, um tanto caótico, tentar dar-lhe uma ordem e entender a sua lógica (as vicissitudes por que passou, algumas vezes transportada, os encaixotamentos e as sucessivas arrumações e desarrumações, apesar do extremo cuidado de todos os que têm lidado com esta biblioteca, fizeram com que a ordem e a arrumação actuais fossem as possíveis, ainda que sejam boas as condições actuais de conservação e de acondicionamento.).
Rapidamente percebi que, neste acerbo notável, tinha um lugar especial a tipografia portuguesa, fornecendo matéria para a constituição de um corpus suficientemente amplo onde pudesse assentar uma investigação. Deste modo, apesar da riqueza da biblioteca permitir outras possibilidades, confinei-me ao estudo das espécies impressas em Portugal dos séculos XVI a XVIII, deixando para outra ocasião o estudo integral do seu fundo antigo. Este é, pois, o primeiro passo para o estudo do livro antigo da Biblioteca José Bayolo Pacheco de Amorim, que incidirá sobre as casas impressoras, a encadernação, os gravadores referenciados (fig. 3, fig. 4, fig.5, fig. 6, fig.7), indicações de posse, a fim de entrever o percurso dos livros, as marcas de água de modo a identificar papéis, datá-los e perceber a sua proveniência.
As indicações de posse são, na sua maior parte, registos manuscritos, e ex-libris (fig. 8, fig.9, fig.10, fig.11, fig.12, fig.13, fig.14, fig.15, fig.16). Por vezes, na mesma espécie, os registos são vários, não sendo fácil fazer uma sequência temporal levando-me a pensar sobre a diversidade de proveniência das obras adquiridas com critérios variados.
Daí que, provavelmente, haverei de concluir sobre o eclectismo de interesses dos bibliófilos fundadores deste fundo, sem uma tendência de gosto bem definida a não ser o amor pelos livros, cujo valor inestimável lhe advém de serem fonte de informação e de cultura e de poderem ser olhados como objectos tecnicamente bem executados e cheios de beleza.
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